terça-feira, 28 de julho de 2020

Saúde e prevenção: na corrida de rua em época de Coronavírus II




Hoje mais uma entrevista com profissionais que estão na linha de frente no combate do novo coronavírus, na semana passada a entrevista foi realizada com o Dr. Nilson S. Pereira. No dia de hoje a entrevista feita com o Prof. Dr. Andres Delgado Canedo, professor da Uninpampa e atleta da ASCORG, vem trazer novos esclarecimentos para os atletas. Agradecemos ao Andres por disponibilizar um tempinho passar de informações.


1 -  Em entrevista anteriormente pelo Dr. Nilson S. Pereira, explicou que o coronavírus sempre existiu, que existe vários
tipos, e que no ano surgiu um novo no fim de 2019, com propensão de contagiar seres humanos, que os anteriores
infectavam animais. O que levou este novos coronavírus  infectar seres humanos?


Os coronavirus, na realidade, são um grande grupo de vírus dentro dos vírus da classe IV. Estes podem ser divididos em alfa, beta, gamma e deltacoronavirus. No caso dos alfacoronavirus, temos o coronavirus 229E que infecta humanos gerando doença respiratória (deste vírus, existem parentes muito próximos já descritos em Alpaca, Camelo e Morcego). No caso dos Betacoronavírus temos o atual Coronavirus (Sars-Cov2), mas também o SARS-Cov-1 (que provocou uma grande epidemia nos países asiáticos em 2003) e o MERS-Cov (identificado em 2012 causando a síndrome respiratória do meio oriente). Embora estes são os mais conhecidos, temos outros como o Human coronavirus HKU1 que aparentemente veio de ratos, sendo que os pacientes infectados tiveram complicações respiratórias. Gamacoronavirus são de aves e não temos relatos em humanos. No que tange aos Deltacoronavírus, se sabe que causa problemas respiratórios em animais infectados, ainda não se sabe se pode afetar humano, mas em laboratório se demonstrou que eles conseguem infectar células respiratórias humanas. 
Mas por que estes vírus que infectam animais não humanos conseguem infectar humanos? Em primeiro lugar temos que pensar que os coronavirus infectam principalmente células epiteliais (respiratórias ou do sistema digestório) de mamíferos, entre os quais nos encontramos evolutivamente. Tanto assim que antes de testar drogas novas em humanos os testes de biossegurança são feito em outros mamíferos. Como somos geneticamente mais próximos de porcos, ratos e outros mamíferos do que das aves, repteis e peixes (só para falar de vertebrados) qualquer vírus que infecte mamífero tem o potencial de infectar humanos com algumas pequenas mutações. No caso dos vírus da classe IV, eles possuem RNA ao invés do DNA como material genético e esta é uma das principais característica de mutarem com tanta facilidade, pois a enzima que gera este genoma não consegue reparar erros na sua geração (como sim acontece com a enzima que gera o DNA). A enzima RNApolimerase possui uma taxa de mutação espontânea mais de um milhão de vezes maior do que a DNApolimerase. Com isto, cada novo vírus produzido tem muita chance de ser diferente do seu vírus parental, a maioria deles vai trazer prejuízo ao vírus, algumas podem trazer vantagens e algumas poderão fazer com que possam infectar novas espécies, desde que evolutivamente próximas. Porem, temos que pensar que para que a infecção aconteça o vetor do vírus e o novo hospedeiro tem que estar no mesmo lugar e o vetor tem que liberar um grande número de partículas virais (por exemplo, calcula-se que para que uma pessoa se contagie com Sars-Cov2 a dose infecciosa -aquela necessária para produzir a infecção- é de pelo menos 1000 partículas virais). Se pensarmos que na hora de infectar um novo hospedeiro o vírus não está totalmente adaptado a este, a dose infecciosa deve ser maior e ainda deve lutar contra inúmeras estratégias antivirais nas células do novo hospedeiro. Resumindo, o potencial de que um vírus mude de hospedeiro é grande, mas as possibilidades são poucas; contudo, algumas vezes, os virus conseguem pegar hospedeiros imunologicamente debilitados e o processo de infecção de um novo hospedeiro acontece. Isto é um processo totalmente natural que acontece em todas as espécies desde que o mundo foi contemplado com os seres vivos (muito antes da espécie humana existir). 


2 – Fazendo um comparativo com a Pandemia do H1N1, onde logo surgiu um remédio que cura a doença e
praticamente a vida voltou o normal em tão pouco tempo. Qual o complicador  do Coronavírus, em uma descoberta
de um remédio como foi H1N1?


A diferença é que H1N1 é só uma variante do influenza vírus sazonal que todos os anos afeta os humanos (H3N2 e H2N3), então fazer uma vacina é rápido pois segue o modelo dos vírus menos agressivos. No caso do Coronavirus, apareceu uma variante similar e “sumiu”, Se ela continuasse na população certamente teríamos avançado bastante no conhecimento do vírus e teríamos, ao menos, algum paliativo.


3 – Você que começou na corrida de rua no fim do ano passado, e no começo do ano já teve que parar devido ao
Coronavírus. O que você de complicador para o atleta, principalmente o corredor de rua, qual a melhor prevenção
que este atleta deve ter de cuidado a mais? E como analisa a prática esportiva durante a pandemia?
Eu parei pela demanda de tempo que significa fazer os testes de SarsCov2 na Unipampa sem deixar de atender as outras demanda do trabalho e familia. Contudo, o atleta tem que entender de que forma o vírus se contagia para evitar entrar em contato com ele. Inicialmente muito se falava do contagio por contato, mas hoje parece que o contágio se dá mais pelo ar. Ambientes com maior número de pessoas tem mais chance de ter alguém contagiado e maior quantidade de vírus no ar. Então a primeira coisa a se levar em consideração é a prática ao ar livre em lugares menos frequentados, com isto teremos menos probabilidade de termos o vírus no ar e se estiver abaixo da dose infecciosa estaríamos mais seguros. Por outro lado, aconselho o uso de mascara (esta comprovado que o uso de mascara reduz em 40% a chance de contaminação) e tentar evitar as corridas em grupo, uma vez que durante a corrida, ao ficarmos ofegantes podemos liberar maior quantidade viral e fazer com que um atleta assintomático contagie, involuntariamente, um atleta parceiro que decidiu correr ao seu lado.
A Pratica esportiva sempre é importante, tanto para a saúde corporal quanto para a saúde mental; contudo, temos que ter todo o cuidado possível para que a nossa corrida seja um prazer e não um perigo à saúde e treinar com todos os cuidados possíveis, sem menosprezar a pandemia. 


4 – Um dos pontos de prevenção é o uso de máscaras, A prática da Corrida de Rua mesmo sendo individual é necessário
o uso de máscara? Caso sim, Por quê? 

Como comentado anteriormente os estudo mais recentes demonstram que o vírus está no ar, por exemplo, no arredores dos hospitais onde se tem um grande número de infectados o número de partículas virais no ar é muito maior do que longe destes locais. Não é a toa que grandes marcas esportivas estão trabalhando no desenvolvimento de mascaras para prática de esportes em segurança.


5 – Em uma conversa com você, me explicou o funcionamento da criação de uma vacina. Como vê o avanço da produção
da vacina do Coronavírus? E confirmando os resultados preliminares da vacina, é um indicativo que em 2021 de retornar
as provas de corrida de rua?


Os vertebrados, principalmente os mamíferos tem um sistema imunológico inato, que se desenvolveu ao longo de centena de milhares de anos de evolução que detecta alguns padrões moleculares existentes nos microorganismos que nos atacam e, por outro lado, tem um sistema imunológico adquirido que vai aprendendo com o tempo de exposição. Desta forma, quando algum patógeno entra no nosso corpo, este sistema tenta, a partir da produção de anticorpos (pelos linfócitos B) ou ataque às células infectadas (pelos linfócitos T), evitar que este prolifere. A primeira luta é mais demorada, mas muitos dos linfócitos B e/ou T que souberam atacar o patógeno ficam vivas num grupo de células conhecidas como células de memoria que no próximo encontro já sabem como agir e, por esse motivo, eliminar o patógeno de uma forma mais fácil e rápida. As vacinas se aproveitam desse conhecimento, ao invés de darmos o microorganismos patogénico damos o microorganismo atenuado, morto ou pedaços deste para produzir células de memória sem causar problemas ao indivíduo vacinado. Teoricamente, isto é simples, mas na prática da muito trabalho. Hoje já se tem, pelo menos, 8 grupos grandes trabalhando em vacinas, sendo que o Brasil participa de 3 e, se a ciência brasileira não estivesse tão sucateada certamente haveriam mais grupos (o Brasil é um dos países com maior número de laboratórios que trabalham na área de produção de vacinas). Os testes estão sendo alentadores e agora somente resta esperar que os testes sejam finalizados e que o oferecimento da vacina seja universal e não um sistema elitizado. Já se sabe que países economicamente fortes estão querendo comprar lotes de vacinas deixando os países pobres à deriva. Quanto à volta às atividades esportivas menos “comerciais”, acho que nem uma bola de cristal que funcione de verdade conseguiria dar um pronóstico. Eu torço para que volte logo, mas dentro de uma condição de segurança quase total. Lamentavelmente, a situação depende de uma população que não está levando a sério as recomendações mundiais e todo mundo paga o pato. 


6 – Fale um pouco do trabalho que vem realizando juntamente com seus colegas na Unipampa com a realização dos
testes. E deixe uma mensagem para os corredores de rua.


Na Unipampa estamos realizando os testes do novo coronavirus (o SARS Cov2) pela técnica de RT-PCR. A iniciativa partiu do Prof. Jeferson Franco e atualmente somos 4 professores que fazemos absolutamente todo, desde o recebimento das amostras até o tratamento adequado dos lixos e limpeza dos laboratórios. Até a data de hoje (27 de julho de 2020) fizemos 2100 testes atendendo 8 municípios da região. Estes testes vem sendo diariamente noticiados e agradecidos pelos prefeitos destes municípios, pois os resultados estão sendo enviados para os Comités locais em menos de 5 horas, possibilitando um melhor manejo da população e indivíduos infectados. Antes da criação do laboratório no Campus São Gabriel da UNIPAMPA, as amostras eram enviadas para o LACEN em Porto Alegre e o resultado era enviado em até 7 dias, dificultando as atividades dos Comités locais da COVID19. Além disso, os municípios arcavam com os custos logísticos que significam as viagens para transporte de amostras, por exemplo, São Gabriel tinha um custo de aproximadamente R$ 400,00 diários. Só por termos o laboratório, trouxemos ao município uma desoneração de R$2000,00 semanais. Fruto deste trabalho a AMFRO (Associação de municípios da Fronteira) entrou em contato conosco para saber das possibilidades de aumentar a capacidade de testagem. Hoje ficamos sabendo que os prefeitos estão lançando um programa chamado Testar Fronteira e que nosso laboratório será o responsável por dita ação. Por conta disto, receberemos a doação de um equipamento para extração do material genético dos vírus de forma automatizada. 

Minha mensagem para o corredores de rua é que colaborem ao máximo com as normas de segurança, usem mascaras, usem e abusem da higiene pessoal e colaborem com a conscientização das pessoas, explicando da importância de cada individuo no combate à pandemia. Disto depende a possibilidade que eu possa voltar a correr nas ruas gabrielenses.

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